sábado, 25 de outubro de 2008

Cozinhado de círculos


Sempre achei o Trae um rapper interessante. Não apenas por parecer ter um arroto suspenso na garganta que lhe deforma o timbre; a voz dele tem uma ressonância brutal que abafa tudo à volta - um peixe com uma boca gigante que varre o que se mexe no mar. Alguém ainda se importa com o que se diz no hip-hop? Cada vez mais, a forma rouba poder e importância ao conteúdo. (Hm, isto fez-me lembrar o empty suit). Basta pensar que, no caso do dirty south em particular, se continua a trabalhar uma ideia tão peculiar de manipulação e desconstrução musical sem, ao fazê-lo, arruinar a intenção e a força das peças originais. Os frutos estão à vista e o entusiasmo no Youtube. Mas não quero falar de produção, antes de flows. Quer dizer, a introdução serviu para dizer algo breve sobre o It Is What It Is de A.B.N., um projecto do Trae a meias com o Z-Ro. O disco é bestial mas tem um dos maiores defeitos à face da terra: um mau começo. "Umm Hmm" e "Still Throwed" são fúteis e têm riffalhões horríveis a cobrir o fundo. "Who's The Man" vem logo a seguir para remediar a coisa, com sintetizadores de algodão doce a soar a g-funk. Impecável. Nunca pensei vir a gostar (tanto) do Z-Ro; sempre pensei nele como um clone do Bun B - pelo registo, não pela postura (O Bun B a fazer isto?). E não foi difícil: bastou ouvi-lo dizer "When I load my AK u bitch niggas gone lay" de uma forma tão bela e agradável ao ouvido.