sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Céu épico



É incrível como, ao 15º disco, o Bruce ainda consegue oferecer boas surpresas ao mundo. O novo single, "Long Walk Home", prova também que a E Street Band é um colectivo magnífico e inseparável do Boss. É uma canção com um toque genuinamente épico e um solo de saxofone luxuoso. Faz lembrar aquelas canções que são feitas por tipos cheios de saudades dos velhos tempos, do tempo em que a vida só trazia novidades. E é boa como tudo.

#4

Ben, não pegues na guitarra eléctrica por uns tempos. Deixa-a num canto, a apanhar o pó que bem lhe apetecer. Arruinaste a faixa que é, possivelmente, a melhor faixa do teu disco, "Goddess Atonement". Até aos três minutos, fizeste-me lembrar a "Khidr And The Fountain" do teu segundo melhor disco, o Dark Noontide. Mas, por impulso, resolveste pegar na guitarra eléctrica e acrescentar uns arranjos. São arranjos foleiros e destroem a faixa por completo. É doloroso ouvir isto. Vou parar por aqui.

#3

"Coming To Get You" é uma faixa rock. Rock não rima com Six Organs Of Admittance. Nem se conjuga. É uma elegia rock.

#2

Continuando, a "Strangled Road" é ideal para namoro aos domingos à noite e a "Jade Like Wine" atinge um ponto brutal aos três minutos com fingerpicking bestial. Parece mel.

#1

Estou a começar a ouvir o Shelter From The Ash, o novo disco de Six Organs Of Admittance. Para já, e avaliando a "Alone With The Alone", está longe do penúltimo, School Of Flower, e pertíssimo do último, The Sun Awakens. Parece haver pouco espaço para o fingerpicking e mais chama para o improviso na guitarra eléctrica. Adoro quando o tipo se põe a tocar desta forma, quase como um raga. Só falta mesmo a voz de um monge a cantar um mantra (o "Om mani padme hum", por exemplo). Eh, esperem: estou a ouvir tappings. O Ben gosta de tappings. Ben, isto quebra toda a magia da canção, meu. Foda-se.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dois, Um



The Arm And Sword Of A Bastard God é a minha banda metal de eleição para esta semana. Descobri-os hoje no myspace. Quando comecei a ouvir a primeira faixa, "Giant Invisible Liar", pensei que o Stephen O'Malley andasse metido nisto. O registo da guitarra tem tudo para ser dele: desde o típico feedback ao início, a afinação 100 tons abaixo do normal, aos riffs pesadões e dispersos. Mas enganei-me: o guitarrista chama-se Ryan McAlary. Fazem lembrar muito o espírito sludge/doom dos Khanate, se bem que menos doentio e mais contido. Adicionei-os à minha lista de amigos.

Um, Dois





Duas perólas do miami bass para entreter. Misoginia e testosterona em alta. De destacar a dos 2 Live Crew, grupo de referência dentro do estilo, com um sample da chinoca mais requisitada do Vietname (culpa do Kubrick). Vou ver se está a dar o Beverly Hills Cop no Hollywood porque, hoje, faz todo o sentido.

Ondas de plasma


Nova faixa do Rick Ross (com Clipse) posta online no site da Spine. O problema dele sempre foi as companhias. Alguém que lhe diga que parcerias com o DJ Khaled e o Akon resultam em superficialidade e sementes pouco férteis. "B.L.O.W. (Block Life is Our Way)" tem uma produção suave, doce e muito clássica, toque soul nas vozes sussurradas no refrão, Clipse a divagar sobre negócios e a fazer crer que "keys open doors" é uma tirada para sempre recordar. Tudo com a sua devida classe. Apesar de soar curta e efémera nos seus quatro minutos (excesso de refrão, diria), aprova-se, mas de pé atrás quanto ao disco Rise To Power.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Efeito subjacente


Há coisas que se acha não valer a pena. Existem discos que funcionam apenas em circunstâncias específicas e quando isso não acontece, soa tudo muito disperso e cai-se num vazio enorme. Já li que há alguns que se tornam mágicos e magistrais quando se está sob o efeito de qualquer coisa que não se traduza num estado normal e sóbrio. Pessoalmente, não sei confirmar este facto. Só sei que resolvi dar uma hipótese ao Loveless dos My Bloody Valentine e que foi incrível ouvi-lo numa viagem nocturna de carro, com chuvinha a salpicar os vidros. O que só reforça uma das minhas teorias pessoais: tudo resulta bem enquanto se viaja.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O status quo nunca foi chato


Tenho o mau hábito de ignorar determinadas coisas que, de uma ou de outra maneira, estão ligadas a outras que, para mim, não são mais do que um bocejo profundo. É o caso de um tipo como o Stat Quo. Descobri-o num artigo da Fader deste mês e, apesar da fotografia e do texto favorecidos (a Fader teve sempre o dom supremo de conseguir demonstrar uma grande força humana e compassiva em qualquer dos artistas que nela apareçam), fiquei de pé atrás quando o vi associado às editoras do Dre e do Eminem. Nunca reconheci talento no Eminem, nem tão pouco adiro facilmente ao gangsta rap da Costa Oeste. Dou-lhes, porém, o merecido valor pela importância que tiveram e influência que tão bem desenharam. Mas nem foi por isso que resolvi pôr o preconceito de parte e descobrir o Stat Quo; foi mais por ter descoberto ocasionalmente o vídeo da nova faixa dele. O vídeo é fraco e banal, mostra uma visão crítica pouco eficaz, mas o flow é peculiar e o refrão resulta.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

The Clash sem guitarra


Não sei até que ponto o happening de amanhã, dia 11 de Setembro, entre os novos discos do Kanye West e do 50 Cent é legítimo. Estamos, por certo, perante um choque de mentalidades vincadas por uma megalomania extrema e, principalmente, uma raiz que, pelas melhores ou piores razões, gera expectativa. É o único facto que vejo partilhado pelos dois, até porque ambos divergem em estética musical: se, por um lado, a abordagem do 50 é um espalhafato de posses e interesses - tidos em grande conta por uma base instrumental que em nada surpreende -, o 'Ye prefere solo mais fértil, criativo e arrojado, mesmo em posição arrogante e umbiguista. "I Get Money", o não-single do Curtis, foi bem recebido mas é daquelas faixas que o tempo enraba em três tempos e transforma em pó. De semelhante forma, "Can't Tell Me Nothing" e, até, "Stronger" do Graduation revelam uma possível ressaca enorme e preocupante, a qual eu já me habituei a associar a um disco como o The Hardest Way To Make An Easy Living de The Streets, que, no meio de parca inspiração, ainda se destaca um par de temas plausível. Nas palavras do 50 , o dia de amanhã não se justifica porque ambos têm visões de negócio e consequente sucesso divergentes, muito embora não deixa de referir que a máquina por detrás do 'Ye fez um trabalho estupendo na promoção do artista, tanto no desejo de um maior público (a eterna questão do hip-hop para brancos?), como na escolha da data de lançamento em questão. Da outra parte, não se suspira. Por isso, aguardo surpresas num dia recheado de tiques de marketing e marcado pela convergência de dois egos animalescos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Magia eterna


Estou a ouvir a "Watch Your Mouth" pela primeira vez (cortesia da Spine). Há sopros a abrir, o som ríspido e típico do RZA, o "word up" que teima em não sair da boca do Raewkon, o Method Man mais ponderado e menos pueril e o Ghost que, rumores da muito provável ausência dele no 9 Diagrams à parte, continua de espírito fresco e irreversivelmente atribulado. A URB do mês de Julho chegou a ter aquele que é, para mim, um dos artigos mais subtis e consistentes de uma revista daquele calibre, conjugando coincidências matemáticas à volta do número 9 com a progressão do grupo ao longo da sua história (há comentários do RZA). Tendo em conta esta faixa e as palavras do Breihan após uma breve sessão de pré-escuta, o disco promete e a magia prevalece.