domingo, 16 de dezembro de 2007

Filhas


Ancestors é mais uma prova de que a América anda a parir aliciantes projectos black metal. Acredito que haja um milhão e doze bandas deste calibre e que não chegam a sair da garagem, o que é uma pena. Carne humana a apodrecer, com um gostinho bom.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Refúgio circular


Hm, é óbvio afirmar que o regresso do Wu-Tang Clan é um acontecimento que vai marcar este ano. De novo os ouvidos se voltaram para escutar as palavras ríspidas do Raekwon e de novo as cabecinhas reflectiram acerca da sabedoria profética do RZA. Porque estes, juntamente com o Ghostface, foram os que mais solidamente construíram um legado de quinze anos de história. E são, actualmente, os que mais cativam. O Inspectah Deck, um dos meus rappers favoritos de sempre, tem uma carreira a solo fraquíssima; o Ol'Dirty Bastard já não vive entre nós (meu, deixaste-nos o Return to the 36 Chambers: The Dirty Version e nós guardá-lo-emos para sempre nos nossos corações humanos; sim, porque tu não eras humano); o GZA resguarda-se, embora tenha o Liquid Swords; o Method Man é caricato e peculiar, mas lembrou-se de se juntar aos Limp Bizkit. Em relação aos restantes, pouco há a dizer. O que o 8 Diagrams vai oferecer ao mundo será nada mais do que uma longa reminiscência, um extenso caminho já caminhado, não sem deixar, aqui e ali, de surpreender. Houve um choque acentuado de interesses e mentalidades durante o processo, com o Ghostface convicto quanto à data de lançamento do The Big Doe Rehab, e o Raewkon a afirmar que o RZA se tinha tornado um homem autoritário e umbiguista por ter a produção nas suas mãos; não deixa, contudo, de ser uma marca evidente e própria de um grupo de tipos perniciosos, com uma mente cheiinha de ideias a fervilhar. A aproveitar a onda de lembranças, a Prefix fez um top Wu-Tang que é, no mínimo, desequilibrado, embora surpreenda na descrição do Tical do Method Man.

O Midnight Life dos Fixxers já esteve mais longe de sair e está disponível para pré-escuta na conta Myspace da SMG. É, sobretudo, uma viragem do Quik para uma nova postura e, também, para um diferente registo de voz (sofrível?).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

É azul, é roxo


Em termos de bizarria e alienação, isto equipara-se à "I Feel Like Dying" do Weezy. Tão-somente pelas mesmas razões.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Fumo branco


O Pimp C foi encontrado morto. Não consigo acreditar. O Tom Breihan também não e escreve num tom elegíaco.

R.I.P.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Água lilás


O Lil'Wayne e o Freeway são os meus rappers de eleição para este ano. Sobre o Freeway falarei numa próxima vez, depois de ter ouvido o Free At Last. Por agora, importa referir que o Wayne é um caso peculiar no hip-hop norte-americano. Isto não se justifica pela quantidade de mixtapes e de sessões pós-mixtapes que lança como quem muda de cuecas, mas pelo simples facto de adorar drogas. Venerar tirar o máximo proveito delas. E é por essa razão que o The Carter III é o disco mais antecipado de 2007. Ele sabe disso porque, dado o mar de expectativas gerado, quis alterar a data de lançamento para o próximo ano, mas também porque, em jeito de antevisão, resolveu juntar umas quantas faixas do disco e fazer uma (?) mixtape. A verdade é que, depois de a ter ouvido, fiquei com uma sensação que já é comum a cada disco/mixtape/conjunto-de-faixas-que-não-chega-a-ser-um-disco que ele edita: uma incoerência anormal e inimaginável. Há, realmente, boas faixas - "Zoo" tem um beat maravilhoso e "Prostitute Flange" tem tudo para ser um clássico -, muita alienação e, no fim, tudo soa a cacofonia. Acredito que seja fruto de uma personalidade fortemente vincada e louvo-o por isso. A escolha das capas é sempre do mais kitsch e parolo que pode existir; as faixas, tanto disparam em diversas direcções e se transformam em oceanos onde nos afogamos facilmente, como são do mais simples que a música popular pode criar e oferecer, conferindo-lhe um génio dinâmico e versátil. Acima de tudo, é uma pessoa grosseira, excêntrica e tudo o que diz nas entrevistas ("I wake up, smoke weed, fuck bitches, get my dick sucked - a lot- and come here to do this shit", confessou à Fader) e nas canções (o "fuck with me" em voz distorcida em "Kush") é puro reflexo disso. O que o faz ser a pessoa mais honesta e importante a aparecer em 2007.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Razão em janelas


De vez em quando, a WIRED oferece artigos destes: geniais no seu jeito nerdy. Em jeito de antevisão e como forma de dinamizar expectativas quanto ao 8 Diagrams, entrevista-se o RZA acerca da selecção rigorosa dos samples que fizeram história enquanto produções do Wu-Tang Clan. Palavras sábias, as do Bodhisattva do hip-hop.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Gengibre


Os Holy Fuck equivalem a um mergulho num mar de confettis. Têm uma noção de ritmo inofensiva, dinâmica, saudável e em nada enjoativa. É noise estranhamente melódico para putos que têm queda para a dança. O disco tem momentos estupendos ("Super Inuit", "Echosam" e "Safari" são do caralho) e está em stream na página do myspace.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Nulos


Foundation Bit de Disrupt é o mais recente melhor disco do ano. Arranjei-o hoje e veio mesmo a calhar numa altura em que a minha cabeça tem dubstep escrito por todos os lados. Está carregadinho de reverb e delay, de riddims épicos e seria um disco do King Tubby se não estivesse tão mergulhado no mar electrónico. É disco da semana no boomkat. Aqui também e é capaz de durar mais do que isso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Luzes e pontos



Fiascogate: uma polémica que se alimenta de si mesma. Depois de ter clarificado que o trabalho dele em nada está relacionado com o dos A Tribe Called Quest (segundo ele, nunca ouviu o Midnight Marauders até ao fim), o Lupe Fiasco resolveu interpretar a "Electric Relaxation" no VH1's Hip-Hop Honors dedicado ao grupo. É irónico e não só: ele meteu o pé na poça durante os versos do Phife Dawg. Esqueceu-se das palavras, riu-se e resolveu saltar enquanto o Common interpretou bestialmente a "Scenario" para tentar remediar o que fez. Sendo uma homenagem feita cerimónia, acho, no mínimo, um grande desleixo e pouca seriedade da parte dele; porém, isto deve ter sido uma sessão de malabarismo para ele, o facto de poder demonstrar que a importância da obra dos 'Quest está a mil galáxias da cabecinha dele. Insiste que foi exaustivamente convidado a participar na cerimónia, coisa que o Q-Tip desmente com a maior classe do mundo; apesar do murmurinho acumulado, afirma convictamente que vai continuar na sua santa ignorância quanto ao grupo, numa arrogância nada recomendável e que nunca imaginei nele. Eu cá penso, e muito sinceramente, que esta história está a ser fomentada por sarcasmo da parte do Lupe. Afinal, quem é sério ao ponto de falar sobre positivismo, escrever letras num tom happy-go-lucky e considerar o gangsta rap a sua fonte de inspiração?

A título de curiosidade, o Ghostface Killah tem novo disco e diz que vai ser lançado no mesmo dia que o 8 Diagrams. Ouch.

A título de tudo o que seja bestial, há nova faixa do Jay-Z. "Roc Boys (And The Winner Is)" é mais um dos (muitos) miminhos que a Spine diariamente oferece e é uma malha com sopros do caraças. Achei a "Blue Magic" medíocre, por isso é esperar para ver o que aí vem.

Sumos



Aos poucos, vou aprendendo a gostar do João Lisboa. Apesar do espírito consideravelmente fechado, não lhe reconheço tiques snobs. O artigo sobre o Robert Wyatt flui espontaneamente e tem um charme peculiar que, não só associo às palavras dele, como ao enorme encanto do entrevistado. Uma boa conversa em Paris com chá e tiradas como esta:


«Para mim, todos os deuses são invenção dos humanos para substituir os seus pais. Um amigo imaginário, maior que nós, que está sempre presente para nos confortar, deve ser uma coisa maravilhosa, mas se não o conseguimos ter, não se pode fingir.»

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Alto dos móveis



O dia 3 de Outubro é um bom dia para se nascer. Foi o que eu pensei, foi o que o Talib Kweli, o Steve Reich, o Tom Wolfe, o Clive Owen e muitos outros pensaram. Para quebrar a tradição, ofereço a todos um miminho: "Nike Boots" do Wale.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Pum-tá Pum-pum-tá


É por estas e por outras que o Pete Rock permanece imaculado nos corações de pessoas como eu.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Céu épico



É incrível como, ao 15º disco, o Bruce ainda consegue oferecer boas surpresas ao mundo. O novo single, "Long Walk Home", prova também que a E Street Band é um colectivo magnífico e inseparável do Boss. É uma canção com um toque genuinamente épico e um solo de saxofone luxuoso. Faz lembrar aquelas canções que são feitas por tipos cheios de saudades dos velhos tempos, do tempo em que a vida só trazia novidades. E é boa como tudo.

#4

Ben, não pegues na guitarra eléctrica por uns tempos. Deixa-a num canto, a apanhar o pó que bem lhe apetecer. Arruinaste a faixa que é, possivelmente, a melhor faixa do teu disco, "Goddess Atonement". Até aos três minutos, fizeste-me lembrar a "Khidr And The Fountain" do teu segundo melhor disco, o Dark Noontide. Mas, por impulso, resolveste pegar na guitarra eléctrica e acrescentar uns arranjos. São arranjos foleiros e destroem a faixa por completo. É doloroso ouvir isto. Vou parar por aqui.

#3

"Coming To Get You" é uma faixa rock. Rock não rima com Six Organs Of Admittance. Nem se conjuga. É uma elegia rock.

#2

Continuando, a "Strangled Road" é ideal para namoro aos domingos à noite e a "Jade Like Wine" atinge um ponto brutal aos três minutos com fingerpicking bestial. Parece mel.

#1

Estou a começar a ouvir o Shelter From The Ash, o novo disco de Six Organs Of Admittance. Para já, e avaliando a "Alone With The Alone", está longe do penúltimo, School Of Flower, e pertíssimo do último, The Sun Awakens. Parece haver pouco espaço para o fingerpicking e mais chama para o improviso na guitarra eléctrica. Adoro quando o tipo se põe a tocar desta forma, quase como um raga. Só falta mesmo a voz de um monge a cantar um mantra (o "Om mani padme hum", por exemplo). Eh, esperem: estou a ouvir tappings. O Ben gosta de tappings. Ben, isto quebra toda a magia da canção, meu. Foda-se.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dois, Um



The Arm And Sword Of A Bastard God é a minha banda metal de eleição para esta semana. Descobri-os hoje no myspace. Quando comecei a ouvir a primeira faixa, "Giant Invisible Liar", pensei que o Stephen O'Malley andasse metido nisto. O registo da guitarra tem tudo para ser dele: desde o típico feedback ao início, a afinação 100 tons abaixo do normal, aos riffs pesadões e dispersos. Mas enganei-me: o guitarrista chama-se Ryan McAlary. Fazem lembrar muito o espírito sludge/doom dos Khanate, se bem que menos doentio e mais contido. Adicionei-os à minha lista de amigos.

Um, Dois





Duas perólas do miami bass para entreter. Misoginia e testosterona em alta. De destacar a dos 2 Live Crew, grupo de referência dentro do estilo, com um sample da chinoca mais requisitada do Vietname (culpa do Kubrick). Vou ver se está a dar o Beverly Hills Cop no Hollywood porque, hoje, faz todo o sentido.

Ondas de plasma


Nova faixa do Rick Ross (com Clipse) posta online no site da Spine. O problema dele sempre foi as companhias. Alguém que lhe diga que parcerias com o DJ Khaled e o Akon resultam em superficialidade e sementes pouco férteis. "B.L.O.W. (Block Life is Our Way)" tem uma produção suave, doce e muito clássica, toque soul nas vozes sussurradas no refrão, Clipse a divagar sobre negócios e a fazer crer que "keys open doors" é uma tirada para sempre recordar. Tudo com a sua devida classe. Apesar de soar curta e efémera nos seus quatro minutos (excesso de refrão, diria), aprova-se, mas de pé atrás quanto ao disco Rise To Power.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Efeito subjacente


Há coisas que se acha não valer a pena. Existem discos que funcionam apenas em circunstâncias específicas e quando isso não acontece, soa tudo muito disperso e cai-se num vazio enorme. Já li que há alguns que se tornam mágicos e magistrais quando se está sob o efeito de qualquer coisa que não se traduza num estado normal e sóbrio. Pessoalmente, não sei confirmar este facto. Só sei que resolvi dar uma hipótese ao Loveless dos My Bloody Valentine e que foi incrível ouvi-lo numa viagem nocturna de carro, com chuvinha a salpicar os vidros. O que só reforça uma das minhas teorias pessoais: tudo resulta bem enquanto se viaja.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O status quo nunca foi chato


Tenho o mau hábito de ignorar determinadas coisas que, de uma ou de outra maneira, estão ligadas a outras que, para mim, não são mais do que um bocejo profundo. É o caso de um tipo como o Stat Quo. Descobri-o num artigo da Fader deste mês e, apesar da fotografia e do texto favorecidos (a Fader teve sempre o dom supremo de conseguir demonstrar uma grande força humana e compassiva em qualquer dos artistas que nela apareçam), fiquei de pé atrás quando o vi associado às editoras do Dre e do Eminem. Nunca reconheci talento no Eminem, nem tão pouco adiro facilmente ao gangsta rap da Costa Oeste. Dou-lhes, porém, o merecido valor pela importância que tiveram e influência que tão bem desenharam. Mas nem foi por isso que resolvi pôr o preconceito de parte e descobrir o Stat Quo; foi mais por ter descoberto ocasionalmente o vídeo da nova faixa dele. O vídeo é fraco e banal, mostra uma visão crítica pouco eficaz, mas o flow é peculiar e o refrão resulta.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

The Clash sem guitarra


Não sei até que ponto o happening de amanhã, dia 11 de Setembro, entre os novos discos do Kanye West e do 50 Cent é legítimo. Estamos, por certo, perante um choque de mentalidades vincadas por uma megalomania extrema e, principalmente, uma raiz que, pelas melhores ou piores razões, gera expectativa. É o único facto que vejo partilhado pelos dois, até porque ambos divergem em estética musical: se, por um lado, a abordagem do 50 é um espalhafato de posses e interesses - tidos em grande conta por uma base instrumental que em nada surpreende -, o 'Ye prefere solo mais fértil, criativo e arrojado, mesmo em posição arrogante e umbiguista. "I Get Money", o não-single do Curtis, foi bem recebido mas é daquelas faixas que o tempo enraba em três tempos e transforma em pó. De semelhante forma, "Can't Tell Me Nothing" e, até, "Stronger" do Graduation revelam uma possível ressaca enorme e preocupante, a qual eu já me habituei a associar a um disco como o The Hardest Way To Make An Easy Living de The Streets, que, no meio de parca inspiração, ainda se destaca um par de temas plausível. Nas palavras do 50 , o dia de amanhã não se justifica porque ambos têm visões de negócio e consequente sucesso divergentes, muito embora não deixa de referir que a máquina por detrás do 'Ye fez um trabalho estupendo na promoção do artista, tanto no desejo de um maior público (a eterna questão do hip-hop para brancos?), como na escolha da data de lançamento em questão. Da outra parte, não se suspira. Por isso, aguardo surpresas num dia recheado de tiques de marketing e marcado pela convergência de dois egos animalescos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Magia eterna


Estou a ouvir a "Watch Your Mouth" pela primeira vez (cortesia da Spine). Há sopros a abrir, o som ríspido e típico do RZA, o "word up" que teima em não sair da boca do Raewkon, o Method Man mais ponderado e menos pueril e o Ghost que, rumores da muito provável ausência dele no 9 Diagrams à parte, continua de espírito fresco e irreversivelmente atribulado. A URB do mês de Julho chegou a ter aquele que é, para mim, um dos artigos mais subtis e consistentes de uma revista daquele calibre, conjugando coincidências matemáticas à volta do número 9 com a progressão do grupo ao longo da sua história (há comentários do RZA). Tendo em conta esta faixa e as palavras do Breihan após uma breve sessão de pré-escuta, o disco promete e a magia prevalece.