terça-feira, 24 de março de 2009

O carro segue cego


Rendo-me: este blogue morreu. Sou demasiado preguiçoso para manter aqui algo digno e recomendável. Estou a ouvir a "Don't Worry" enquanto escrevo, a única faixa que justifica o último disco do Mavado - sou muito conservador no que toca a versões-de-riddims-que-são-lançadas-em-45"-e-depois-são-agrupadas-à-balda-para-fazerem-um-disco. É um tema estupidamente bem feito, a competir com a "Set Me Free" em dose de pedrada/arrepio/choradeira. E, meus amigos, estou com ele:

Yeh fa even if wi left the gully
Don't worry don't worry
Retaliation in a hurry
Don't worrrrrrrrrryyyyyyyy

Uma prenda para matar o bicho com uma boa espingarda:

Good Life Riddim
, mix feita por mim.

Carinhos mil.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Faces de bolacha


O último Sting Clash tem andado na boca de todos. Não há consenso porque, como é costume, a histeria é pouco lúcida. O meu ângulo: o Vybz dominou satisfatoriamente até que o protagonismo passou para o outro lado; assim que o Mavado recuperou o fôlego - desgastá-lo logo no início de uma clash, caminhando na convicção de que uma boa primeira impressão é suficiente para aniquilar o adversário, é o maior risco do mundo -, o Vybz caiu no buraco do impulso e abriu a ferida errada quando quis levar o confronto para o campo pessoal. Aí, o Mavado jogou o Ás: depois da provocação insolente, não poderia haver decisão melhor do que abandonar o palco, deixando o Vybz sozinho e fraco, entregue aos apupos mortíferos do público - se houvesse uma distribuição de AKs em massa, a coisa daria para o torto. O Mavado não o matou em palco; quis foi demonstrar que há leões que devem ser domados. Trata-se, aliás, de dois artistas totalmente opostos: o Vybz é o colérico - sim, é - que não tem a noção de timing afinada, ao passo que o Mavado é o Messias ponderado que quer libertar o dancehall da violência por via espiritual. Dizer-se que o confronto é entre o Bem e o Mal é simplório mas faz sentido. Não é por acaso que um dos motores deste dissing é o facto de o Mavado acusar o Vybz de virar as costas a Deus - "A him nuh waan know God and God nuh waan know him", diz o Mavado; "Tell God seh Selassie I a my emperor", responde o Vybz. Uma coisa é certa: se o Youtube não existisse, a disputa já teria morrido à fome.

sábado, 25 de outubro de 2008

Cozinhado de círculos


Sempre achei o Trae um rapper interessante. Não apenas por parecer ter um arroto suspenso na garganta que lhe deforma o timbre; a voz dele tem uma ressonância brutal que abafa tudo à volta - um peixe com uma boca gigante que varre o que se mexe no mar. Alguém ainda se importa com o que se diz no hip-hop? Cada vez mais, a forma rouba poder e importância ao conteúdo. (Hm, isto fez-me lembrar o empty suit). Basta pensar que, no caso do dirty south em particular, se continua a trabalhar uma ideia tão peculiar de manipulação e desconstrução musical sem, ao fazê-lo, arruinar a intenção e a força das peças originais. Os frutos estão à vista e o entusiasmo no Youtube. Mas não quero falar de produção, antes de flows. Quer dizer, a introdução serviu para dizer algo breve sobre o It Is What It Is de A.B.N., um projecto do Trae a meias com o Z-Ro. O disco é bestial mas tem um dos maiores defeitos à face da terra: um mau começo. "Umm Hmm" e "Still Throwed" são fúteis e têm riffalhões horríveis a cobrir o fundo. "Who's The Man" vem logo a seguir para remediar a coisa, com sintetizadores de algodão doce a soar a g-funk. Impecável. Nunca pensei vir a gostar (tanto) do Z-Ro; sempre pensei nele como um clone do Bun B - pelo registo, não pela postura (O Bun B a fazer isto?). E não foi difícil: bastou ouvi-lo dizer "When I load my AK u bitch niggas gone lay" de uma forma tão bela e agradável ao ouvido.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Suportes de lama


Não sei para que lado pende a opinião geral (encanto ou repulsa?), mas "Love Lockdown" é um bom miminho. Já se sabia que auto-tune na voz do Kanye é o equivalente a rendilhar ouro, até porque, sem grande esforço, esse cuidado havia feito de "Put On" do Jeezy uma canção estupenda. Trata-se de um pormenor básico e em nada trabalhoso, mas que triunfa se for bem doseado. "Love Lockdown" tem uma estrutura linear, é previsível na forma como vai construindo picos de tensão musical - a melodia oferece-nos sempre o depois sem margem para o adivinharmos -, o que nos faz pensar que quer ser hino. Considero-a singular num aspecto muito simples: o esplendor não é o foco principal, o brilho tão comum em produções dele não é logo perceptível, vai-se formando na consciência de quem ouve. É curioso o facto de o auto-tune ser apenas perceptível nos agudos, uma vez que, em registo grave, a voz coberta de reverb cria uma ideia de recurso constante a vibratos. Daí o mérito: é utilizado para enriquecer melodicamente com sensibilidade e perspicácia, com equilíbrio. Não força a intenção nem cai em abusos, como é habitual ver-se em alguns casos (serei o único a pensar que o T-Pain se tornou um robot?). É o single mais interessante dele em muito, muito tempo e, se se confirmar o meu pressentimento de que o tempo de composição não tenha ultrapassado os 12 minutos, ofereço-lhe toda a legitimidade de poder abraçar o céu.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cerrados para trás


A letargia é enorme. Falta inspiração nesta casa. As férias são implacáveis. Alguém que morda as malditas.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Podres anulados


Ainda a espumar insconscientemente à custa do dancehall, descubro uma faixa que me faz olhar para cima e agradecer aos céus: "Yuh Good" do Da'Ville. Injustamente, podemos considerar que, dentro do dancehall, o Da'Ville está excluído na consciência de todos nós. Demasiado meloso para a agressividade carnal tão banalizada, pouco exigente consigo próprio. Não (se) entusiasma. Parece que se acomodou à condição que inicialmente pensou para a sua música, sem querer arriscar. Riscos, o que mais se quer no dancehall. Os riscos exigem empenho para resultarem e, uma vez seguidos, tanto pendem para o vazio como para o prodígio. Não deixam, em ambos os casos, de ser actos heroícos, que demonstram motivação, desejo de superação. É para isso que existe um riddim: para que cada um o tenha nas mãos, que o vista e defina à sua vontade. Acredito que o Rum Punch seja facilmente trabalhado, nem que seja pelo facto de fazer com que tudo soe magistral, quando acompanhado pela linha de piano épica. Daí atribuir metade do mérito de "Yuh Good" a tudo o que não seja voz. Mas a verdade é que o Da'Ville não se mostra derrotado, de luvas de boxe arrumadas (outros tempos, meu bom rapaz); pelo contrário, soa muito desperto para quem se parece perder de amores por uma miúda. Quase me apetece dizer que tem uma frustação muito semelhante à da que o Serani sofre: sente-se prisioneiro do registo de voz que tem, mantendo-o mesmo que se exalte ou se expresse de forma mais demarcada. Mas não digo.

domingo, 18 de maio de 2008

Limbo no jantar


Na Jamaica, os ouvidos mais puristas perceberam finalmente o óbvio: o reggae já não faz sentido se não estiver associado ao modelo roots. Intervencionista e, principalmente, com a realidade nas mãos em vez de flores. A coisa ainda demorou, até porque "Welcome To Jamrock" é de 2005. Mas serviu, sobretudo, para o mundo esfregar os olhos no que toca ao dancehall. Nova mentalidade, aceitação renovada, a anos-luz do lobby. Analisando muito por alto, o dancehall está a ter uma evolução fabulosa em termos de produção e voz. No campo de quem produz (os engineers de Kingston), há o Stephen "Di Genius" McGregor que, raízes de parte, é um prodígio que faz riddims épicos (quando estiver com vontade de matar alguém, quero que se oiça o "Red Bull & Guinness" em fundo) e se refugia nos Bigship Studios numa espécie de meditação contínua; os Daseca, que vão conjugando linhas de comoção e arrebatamento (ora delírio, ora introspecção), e o Demarco, com mãozinhas que enriquecem um espírito rythm and blues pouco presente e representado. No que toca à voz, o género tem andado a morrer de encantos pelo auto-tune. É bom sinal, sinal de que a soul anda a passear na cabeça de todos os cantores (não pode haver melhor exemplo do que este; é curioso notar que o Mavado não precisa de efeitos na voz). Mais especificamente, temos personagens diversas num combate comum: o Mavado foi, segundo o próprio, criado à imagem e semelhança do 2Pac; o Busy Signal encarna o tipo que acabou de sair da prisão e procura a redenção e o auto-controlo; o Munga é um ente espiritual muito próximo de Tafari Makonnen que parece ter engolido um vocoder; o Serani tem gosto em arranjar-se e o objectivo de explorar o falsetto até as cordas vocais rebentarem. E, com dissing e clashes a testá-los, o dancehall vai amadurecendo, sendo rei.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Foguetões em marcha



O que se passa com o Prodigy? Há vídeos do novo H.N.I.C. 2 a circular, todos eles muito semelhantes, todos eles banais. Se bem me lembro, ele nunca teve sorte neste formato: na "It's Mine" com o Nas, parece um ogre quando está a conduzir o iate e um chulo horrendo à beira da piscina; a "Quiet Storm" só não morre de escassez de inspiração e classe porque os tons rouge enganam; o surrealismo (futurismo, o tanas) ridículo da "Put 'Em In Their Place" mete dó. Por isso, resta-nos um artista que, à falta de uma exploração estética mais rica e estimulante, se tenta elevar na componente musical. Ele já deu provas disso, mas são provas que vão aparecendo, aos bocadinhos, a pedir que alguém dê por elas, que as reconheça e acabe por elogiar inconscientemente uma carreira instável. As novas faixas são muito, muito fracas e, sinceramente, não sei reconhecer o verdadeiro problema nelas. Não sei o que, aqui e ali, poderia ser remediado. O Prodigy dá sinais de moleza. Alienação. Alienação por achar ainda que o que anda a fazer é suficientemente bom. E é triste vê-lo achar isso.

sábado, 29 de março de 2008

Arroz diverso


Se o novo disco dos Roots tiver mais cinco, seis faixas deste calibre, compro-o (e esqueço a "Birthday Girl"). Ou muito me engano, ou o Wale vai ter este ano só para ele. E merece, depois de uma porradona de mixtapes, de ser presença frequente em sets do Nick Catchdubs, de ter feito algo tão bom como "Nike Boots" e genial como "Good Girls" e de, vá lá, ter partilhado uma capa da URB com os Justice. Não precisa de provar mais nada.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Soluços

Por que razão é que, no geral, os vídeos subvalorizam as próprias canções? Tinha na ideia, por exemplo, que a "Speedin" do Rick Ross com o R. Kelly era péssima e, agora que a arranjei, soa incrivelmente bem. Experimentei fazer o inverso: peguei no mesmo tipo e, tendo já a "The Boss" com o T-Pain na ponta da língua (dos ouvidos), vi o vídeo e, hm, achei-a medíocre. Ou então sou eu que sou picuinhas.

Unhas


Disco a solo do RZA este Verão. Para já, "You Can't Stop Me Now" é aborrecida para caraças. É um tema chato, mesmo que o flow fresco o disfarce. Se há coisa terrível no mundo é uma canção estar demasiado presa e dependente do sample que usa. Ainda para mais, quando ele é mal escolhido. Neste caso, cansa e chega a enervar. O Raekwon e o Ghostface já o haviam dito: o RZA (ou Bobby Digital) está perto de um grave estado de demência. Muito perto.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Casa seca


Não sei muito bem explicar o meu ódio pessoal aos Klaxons. Vi-os acidentalmente no Super Bock Super Rock, onde deram um concerto em loop repulsivo, conheço os singles pobrezinhos e cheguei à conclusão que as aparições que fizeram em bares underground de Londres serviram apenas para as pessoas (os putos) voltarem a usar a fluorescência do acid house. E são daquele tipo de bandas que, à falta de inspiração, gostam de dizer que não sabem tocar nenhum instrumento e que fazem música para satisfazer almas. Isso não chega. Ainda para mais, falo de uma que actuou com a Rihanna nos Brit Awards. Foi péssimo. Para além de a estética monstruosa igual à dos espectáculos dos Daft Punk não se enquadrar, a consistência que se espera num cruzamento de duas canções de diferentes artistas não existe. Este segundo ponto é óbvio quando a Rihanna está num plano de vantagem em relação aos Klaxons. Parece que montaram uma muralha invisível que os separa e descontextualiza, descaradamente visível a partir dos 03:18. No caso dos Klaxons, denota-se farsa e desleixo, pormenores que são escondidos em disco (a Mentira) mas facilmente denotáveis em palco (a Verdade). São tudo factos. Puros. E, bom, acho que são suficientes.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Brilho escuro


Será pedir muito a morte do DJ Khaled? É que, não sei, ouvi-lo gritar "We the best" ou "We takin' over" no início de todas as produções e parcerias do Rick Ross torna-se pouco estimulante e digno de bocejo. Para não dizer desprezível. Pelo contrário, a contribuição contínua do T-Pain é um valor enorme que enriquece uma meditação em torno do capitalismo que, à partida, se mostra pouco rendível. Esta não é excepção. Facto: o Rick está com um flow cada vez mais ofegante e fatigado, o que me leva a pensar que ele faz as gravações sentado numa poltrona forrada a ouro, depois de uns breves minutos a correr na passadeira. Faz todo o sentido, já que o novo hábito dele é mostrar o peito enorme que tem (tudo começou aqui e já se expandiu).

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Mamã


Finalmente o devido mérito ao Bobb Trimble. O nome dele nunca passou de mera vadiagem por pequenos artigos dedicados a pérolas obscuras do psicadelismo americano, mas a reedição dos dois discos originais dele serviu de sopro para, pelo menos, dar a conhecer ao público uma obra genial como Iron Curtain Innocence. Bom, basicamente, é o que o Ariel Pink anda a fazer hoje em dia: domar a pop com ácido debaixo da língua. "Your Little Pawn" faz-me pensar que ele merece um trono no Céu.

Lúcias amigas


É seguro dizê-lo: "Shove It" da Santogold é um daqueles belos presentes que não são vistos como tal por terem um embrulho foleiro. O lado trashy da pop sempre me deu a volta ao estômago (cores berrantes ferem-me severamente os olhos) e é o que há de mais vistoso nela. Mas "Shove It" banha-se de dub, soa incrivelmente bem e não se perde por arriscar. Por favor, alguém que peça ao Naeem Juwan para editar uma mixtape com freestyles por cima de malhas do Keith Hudson.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pureza no alcatrão


À excepção de Baltimore, Brooklyn parece ser o local de acolhimento perfeito para todos os tipos marados da tola e que pretendem investir no desconstrutivismo e insanidade através da música. Não é novidade nenhuma que Nova Iorque tem um background notável em matéria de espaço de autonomia artística, mas o caso do bairro citado em particular demonstra uma enorme transgressão dessa ideia, quando se olha para os Black Dice, Excepter e Yeasayer. Não é preciso ir muito longe, quando o 77 Boadrum foi realizado pertíssimo da Brooklyn Bridge. Esta tendência perpétua para a experimentação é amplificada agora pelos Free Blood. Descobri a página deles há bocado e a primeira conclusão a que cheguei foi que o início da "Weekend Condition" é um pastiche de uma faixa dos TV On The Radio (err, Brooklyn mais uma vez) à vossa escolha. Já a "Grumpy" agrada ao ouvido pelo falsetto e pelos arranjos de cordas no refrão. É um casal e, enfim, é melhor do que outros que por aí andam.

Salada de caracóis


Mais uma prova de que a Shady Records sabe no que aposta: Bobby Creekwater. Um tipo com a devida classe, que evita registos forçados (sofríveis) ao máximo, fazendo lembrar um Guru menos messiânico e mais focado em receber pessoas de tuxedo e Baileys bem agitado, mesmo que o propósito seja informal. "OJ Simpson" é boa como tudo.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ambulância da dor


Apesar de muitos s'esquecerem, tudo é geracional. Tudo se constrói por fases que demoram o seu tempo e o tempo que as pessoas querem que demore. A partir do momento em que a novidade se transforma em tédio, gera-se a efeméride e um buraco negro para o qual, obrigatoriamente, ninguém deve apontar lanternas. Há quem não entenda isso. Passei a tarde inteira a ver televisão e, por uma publicidade pobrezinha, descobri que ainda se dá valor a uma banda como os Korn. O nu-metal, fechado na sua estranha forma de vida, ainda tem alguma coisa a oferecer ao mundo? Se tem, passa, essencialmente, por bafio.

(Opinião de quem já usou o cap vermelho dos Yankees e Adidas Superstar.)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Turmas de borracha

(Falei no Diabo no post anterior e ele agora aparece-me com uma classe gigantesca. Mike Love + Fela = Roc Boys.)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Choro



O Re-Up Gang está de volta com mais uma série da mixtape We Got it 4 Cheap. Está disponível em stream no blog da editora e, mais uma vez, é Clipse com o Ab-Liva (dos medíocres Major Figgas) e o Sandman em pano de fundo. Pelo simples facto de o Malice e o Pusha T terem uma enorme capacidade de se demarcar sem grande esforço ou intenção. De destacar o freestyle com o beat da "Roc Boys (And The Winner Is)" que merecia ser a remix oficial do original do Jay-Z. Uma pena.

Woodstock no Deserto