quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Suportes de lama


Não sei para que lado pende a opinião geral (encanto ou repulsa?), mas "Love Lockdown" é um bom miminho. Já se sabia que auto-tune na voz do Kanye é o equivalente a rendilhar ouro, até porque, sem grande esforço, esse cuidado havia feito de "Put On" do Jeezy uma canção estupenda. Trata-se de um pormenor básico e em nada trabalhoso, mas que triunfa se for bem doseado. "Love Lockdown" tem uma estrutura linear, é previsível na forma como vai construindo picos de tensão musical - a melodia oferece-nos sempre o depois sem margem para o adivinharmos -, o que nos faz pensar que quer ser hino. Considero-a singular num aspecto muito simples: o esplendor não é o foco principal, o brilho tão comum em produções dele não é logo perceptível, vai-se formando na consciência de quem ouve. É curioso o facto de o auto-tune ser apenas perceptível nos agudos, uma vez que, em registo grave, a voz coberta de reverb cria uma ideia de recurso constante a vibratos. Daí o mérito: é utilizado para enriquecer melodicamente com sensibilidade e perspicácia, com equilíbrio. Não força a intenção nem cai em abusos, como é habitual ver-se em alguns casos (serei o único a pensar que o T-Pain se tornou um robot?). É o single mais interessante dele em muito, muito tempo e, se se confirmar o meu pressentimento de que o tempo de composição não tenha ultrapassado os 12 minutos, ofereço-lhe toda a legitimidade de poder abraçar o céu.

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