domingo, 18 de janeiro de 2009

Faces de bolacha


O último Sting Clash tem andado na boca de todos. Não há consenso porque, como é costume, a histeria é pouco lúcida. O meu ângulo: o Vybz dominou satisfatoriamente até que o protagonismo passou para o outro lado; assim que o Mavado recuperou o fôlego - desgastá-lo logo no início de uma clash, caminhando na convicção de que uma boa primeira impressão é suficiente para aniquilar o adversário, é o maior risco do mundo -, o Vybz caiu no buraco do impulso e abriu a ferida errada quando quis levar o confronto para o campo pessoal. Aí, o Mavado jogou o Ás: depois da provocação insolente, não poderia haver decisão melhor do que abandonar o palco, deixando o Vybz sozinho e fraco, entregue aos apupos mortíferos do público - se houvesse uma distribuição de AKs em massa, a coisa daria para o torto. O Mavado não o matou em palco; quis foi demonstrar que há leões que devem ser domados. Trata-se, aliás, de dois artistas totalmente opostos: o Vybz é o colérico - sim, é - que não tem a noção de timing afinada, ao passo que o Mavado é o Messias ponderado que quer libertar o dancehall da violência por via espiritual. Dizer-se que o confronto é entre o Bem e o Mal é simplório mas faz sentido. Não é por acaso que um dos motores deste dissing é o facto de o Mavado acusar o Vybz de virar as costas a Deus - "A him nuh waan know God and God nuh waan know him", diz o Mavado; "Tell God seh Selassie I a my emperor", responde o Vybz. Uma coisa é certa: se o Youtube não existisse, a disputa já teria morrido à fome.

Sem comentários: